Macuquinho-preto-baiano
Macuquinho-preto-baiano: Descoberto e ao mesmo tempo ameaçado de extinção.
Esta não é uma história exclusiva de espécies da Mata Atlântica, mas o bioma mais desmatado do país é palco com frequência de crônica semelhante: passar de espécie desconhecida à ameaçada, após a publicação de apenas um artigo científico. E em agosto o macuquinho-preto-baiano (Scytalopus gonzagai) fez essa dupla estreia nos registros da ciência.
Ele é um passarinho com apenas 12 centímetros de comprimento e coloração predominante escura. Difere de outros macuquinhos pelo ritmo de canto mais forte e tipos de vocalização. Sua descrição foi publicada na revista The Auk, publicação científica da União dos Ornitólogos Americanos.
"O macuquinho-preto-baiano difere dos seus parentes também por tamanho e coloração, o que é um fato notável para o gênero", conta Marcos Ricardo Bornschein, ecólogo da Universidade Federal do Paraná e do Instituto de Pesquisas Ambientais de Curitiba, e um dos autores da descrição da ave. Ele explica que essas diferenças são incomuns entre espécies do gênero Scytalopus, as quais costumam ser muito parecidas, com variações apenas genéticas e na forma de cantar.
Apesar do reconhecimento científico recente, a história da descoberta do macuquinho-preto-baiano começou há mais de 20 anos, em 1993, quando foram feitas as primeiras coletas e gravações de vozes da espécies. Porém, os pesquisadores acreditavam que se tratava do macuquinho-preto comum, que vive no Sul e Sudeste do país. Os registros só começaram a ser estudados sistematicamente a partir de 2004.
"Ao longo do estudo percebemos que se tratava de uma nova ave do gênero Scytalopus", diz o autor principal do artigo, Giovanni Nachtigall Maurício, professor do curso de Gestão Ambiental da Universidade Federal de Pelotas (RS). Estes estudos culminaram com uma expedição em 2006, que teve apoio do Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
O macuquinho-preto-baiano só é encontrado em um trecho montanhoso do litoral baiano, numa área de quase 6 mil hectares de Mata Atlântica. A estimativa dos pesquisadores é que existam menos de três mil indivíduos, número considerado baixo para aves, o que já o coloca dentro da categoria de espécies ameaçadas de extinção.